Wednesday, May 27, 2015

Bancos propõem incentivos a crédito privado de longo prazo

Da criação de um novo título de captação bancária a novos estímulos ao mercado de capitais, os bancos discutem com o governo uma série de medidas de estímulo ao financiamento de longo prazo da economia. O principal objetivo é encontrar fontes alternativas ao BNDES e, do lado do governo, criar uma agenda positiva para a retomada dos investimentos em meio ao cenário de retração da atividade e da necessidade de ajuste fiscal.
Uma das propostas levadas pelos bancos foi a criação da "letra de investimento", um instrumento semelhante às letras de crédito imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA), mas com lastro em financiamentos destinados a projetos de investimento.
Para atrair o investidor, a nova letra teria isenção de imposto de renda e não estaria sujeita ao recolhimento do compulsório no Banco Central. Em contrapartida, os papéis precisariam ter prazo mínimo de três anos e sem possibilidade de recompra antes do vencimento, de acordo com a proposta à qual o Valor teve acesso.
O incentivo fiscal ajudaria a atacar dois dos principais entraves para o financiamento privado: o custo alto e o prazo relativamente curto do funding bancário em comparação com as linhas subsidiadas do BNDES. Com a nova letra, as instituições conseguiriam emprestar os recursos a uma taxa atrativa e, ao mesmo tempo, "casada" com o prazo de maturação dos projetos financiados.
O objetivo é que o novo título de captação preencha uma lacuna no financiamento durante a fase de construção dos empreendimentos, considerada mais arriscada. Em vez de correr o risco direto do projeto, o investidor da letra ficaria exposto ao risco do banco emissor do papel, como se tivesse aplicado em um CDB tradicional.
A criação do novo título de captação, que depende de lei específica, é apenas uma das iniciativas em discussão. O tema vem sendo tratado por entidades que representam os bancos, como a Anbima e a Febraban, em interlocução frequente com o governo. A expectativa é que a agenda avance tão logo o governo consiga deixar para trás a aprovação das medidas de ajuste fiscal. As condições de financiamento são fundamentais para viabilizar, por exemplo, o novo programa de concessões em preparação pelo governo.
Uma alternativa mais imediata à criação da letra bancária é a liberação de parte do compulsório retido no Banco Central. Os recursos poderiam ser usados para os chamados "empréstimos-ponte", linhas de curto prazo concedidas enquanto o financiamento definitivo não sai.
A medida conta com a vantagem de não representar renúncia fiscal e seria um estímulo adicional para que os bancos comerciais topassem o risco de financiar os projetos em seu momento mais crítico. A liberação dos recursos, contudo, não encontra simpatia no Banco Central e não chegou a ser incluída na proposta da Febraban, segundo o executivo de um banco, que pediu para não ser identificado.
Como o balanço das instituições financeiras é limitado, as medidas propostas pelo setor privado passam também pelo estímulo ao mercado de capitais. Uma das ideias é oferecer garantias aos investidores que comprarem títulos de dívida de projetos em fase pré-operacional. As debêntures emitidas para financiar obras de infraestrutura já contam desde 2011 com isenção fiscal para pessoas físicas e investidores estrangeiros.
Em caso de atraso ou outro problema que prejudique o fluxo de caixa do projeto, as instituições que concederam o aval arcam com o pagamento de juros aos investidores. Os bancos já testaram esse mecanismo em algumas operações e o próprio BNDES já sinalizou que pretende oferecer esse tipo de garantia para as empresas que captarem recursos no mercado de capitais.
Os bancos também querem que o governo autorize a captação de recursos pelas empresas com a emissão de debêntures de concessões mais maduras - e, portanto, com menos risco para o investidor - para financiar novas obras. A emissão também seria usada para pré-pagar empréstimos do BNDES, o que contribuiria para reforçar o caixa do banco.
A Anbima também já encaminhou ao governo uma série de sugestões para destravar o financiamento privado. A associação divulgou ontem um relatório que traz uma compilação de todas as propostas encaminhadas nos últimos anos.
Em conjunto com o BNDES, a Anbima anunciou o plano de vincular a concessão de crédito ao custo de TJLP, atualmente em 6% ao ano, à captação uma parcela dos recursos no mercado de capitais. "A medida deve ter um efeito multiplicador dos recursos do banco", afirma Eduardo Muller Borges, diretor da área de mercado de crédito internacional e local do Santander.
Borges não comentou sobre novas medidas, mas diz que a redução do espaço do BNDES, com a maior participação do setor privado no financiamento de longo prazo, é positiva, desde que as regras para os empréstimos aos projetos já aprovados sejam mantidas.
Enquanto novas medidas de estímulo não saem, o mercado começa aos poucos a ganhar tração. "O movimento não chegou a parar, mas só recentemente voltaram a aparecer solicitações para emissões de debêntures de infraestrutura", afirma o advogado Ricardo Simões Russo, do escritório Pinheiro Neto.
Entre as medidas para incentivar o financiamento de longo prazo via mercado, o advogado citou uma já existente, regulamentada no ano passado pelo Banco Central: a oferta no exterior de certificados com lastro em debêntures emitidas no Brasil, conhecidos como depositary receipts (DR). Embora o instrumento esteja pronto, ainda depende da definição de questões fiscais, segundo Russo.

Tuesday, May 26, 2015

Mercado Imobiliário

O impacto sobre o mercado imobiliário da decisão, já confirmada, da Caixa Econômica Federal (CEF) de reduzir em R$ 25 bilhões o orçamento de crédito à moradia neste ano poderá ser maior do que se podería prever. Isso se explica porque o crédito imobiliário em geral já perdia vigor desde 2014, antes de a CEF anunciar uma diminuição mais expressiva dos financiamentos previstos. Agora, apesar da desaceleração, é provável que faltem recursos não só para financiar a compra de usados, mas também para novos investimentos.
 
No primeiro trimestre, os empréstimos para construção e aquisição com recursos das cadernetas de poupança apresentaram queda próxima de 5%, de R$ 25,2 bilhões para R$ 24,1 bilhões, em relação a igual período do ano passado, em valores nominais - ou seja, o recuo efetivo superou 10%, levando em conta a inflação. Embora abril tenha sido menos desfavorável, o quadro não mudou muito, com recuo da ordem de 3% no primeiro quadrimestre.
 
A CEF é o maior agente emprestador, respondendo por mais de dois terços da oferta de crédito imobiliário. Tem capilaridade e uma clientela habituada a juros competitivos.
 
O auge dos empréstimos da Caixa ocorreu em 2013, quando os créditos se aproximaram dos R$ 135 bilhões, caindo para menos de R$ 130 bilhões em 2014. Neste ano, poderão recuar para R$ 100 bilhões, incluídas as operações com o FGTS.
 
Em 2014, as cadernetas financiaram mais de 500 mil imóveis, número que passa do milhão quando incluídas as operações do FGTS. O fundo é a grande fonte de recursos para o programa oficial de casas populares, cujas liberações já atrasam, afetando vasta gama de construtoras, de pequenas a grandes.
 
Há pouco a fazer em relação à queda de recursos das cadernetas, numa conjuntura de juros crescentes. Especialistas já admitem que os saques poderão chegar a R$ 50 bilhões neste ano apenas no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), ou seja, sem contar a poupança rural captada pelo Banco do Brasil, não destinada à moradia.
 
Sem a certeza de que haverá crédito e às voltas com a devolução de imóveis por clientes que perderam renda, construtoras e incorporadoras sentem mais a crise, mostrou reportagem do Estado ontem.
Se o declínio da oferta de crédito imobiliário será bem mais acentuado que o previsto, parece pouco recomendável que recursos do FGTS sejam deslocados da habitação para o BNDES, como quer o governo.
O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-corte-de-credito-da-cef-e-o-mercado-imobiliario-imp-,1694176O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:
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Friday, May 22, 2015

O caminho traçado para colocar as expectativas na meta


Primeiro, muitos analistas econômicos achavam que o Banco Central iria puxar os juros para colocar já as expectativas do mercado financeiro em 4,5% ao fim de 2016. Agora, as queixas são de que a autoridade monetária vai abandonar as expectativas de inflação à própria sorte. Não é nada disso.

BC segue a condução clássica do regime de metas de inflação. Ou seja, está mirando a inflação em 4,5% ao fim de 2016, segundo seus próprios modelos, adotando um balanço de riscos conservador para chegar lá.

A expectativa de inflação faz parte dessa equação porque é um dos mecanismos de transmissão da política monetária, e também um dos componentes com grande peso nos modelos de projeção do BC. Domá-la faz parte da tarefa de levar a inflação ao centro da meta, e a sua ancoragem deve ser feita ao longo do caminho que leva a inflação a 4,5%.

A confusão no mercado financeiro sobre os reais propósitos da política monetária surgiu há alguma semanas, quando o BC indicou que tem os objetivos de: circunscrever os ajustes de preços relativos (alta do dólar e reajuste de preços administrados) a 2015; fazer a inflação chegar à meta de 4,5% ao fim de 2016; e ancorar as expectativas do mercado em 4,5% ao fim de 2016.

Alguns analistas econômicos entenderam a mensagem do BC como uma determinação de, por meio de altas mais fortes de juros neste momento, colocar as expectativas do mercado, hoje em 5,5%, em 4,5% ao fim de 2016. Ou seja, um entendimento de que o objetivo principal da política monetária é domar as expectativas de inflação do mercado.

Na edição do Valor de quarta-feira, o jornalista Cristiano Romero esclareceu que, na verdade, o BC mira a inflação por meio do que dizem os seus modelos. Ou seja, no curto prazo, vai subir os juros até que as projeções de seu modelo apontem 4,5%. Não poderia ser diferente num regime de "inflation forecast targeting" (meta de inflação projetada, em tradução livre).

A essas considerações, pode se acrescentar que, dentro dessa tarefa, o BC vai operar com um balanço de riscos conservador. E vai ajustar a condução da política monetária aos eventuais desvios da inflação projetada à meta que surjam nessa jornada.

Estamos a 17 meses de dezembro de 2016, prazo que o BC determinou como final para colocar a inflação na meta. No Brasil, os efeitos da política monetária se transmitem relativamente rápido para os preços, em cerca de três trimestres. Há, portanto, tempo hábil para reagir a desdobramentos desfavoráveis em relação aos previstos nas projeções do BC e garantir a convergência da inflação para 4,5% ao fim de 2016.

Talvez seja por isso que, na sua comunicação, o BC tem deixado relativamente em aberto os seus passos futuros e tem sido paciente em não decretar um fim prematuro do ciclo de alta.

Uma leitura que surgiu desde quarta é que, ao reafirmar que mira a inflação com a lupa de seus modelos, o BC abandonou o objetivo de ancorar as expectativas no centro da meta de 4,5% em 2016. Outro entendimento é que teria baixado a guarda na sua indicação de vigilância. Mas não houve mudança na comunicação.

O objetivo de ancorar as expectativas segue válido, assim como o de circunscrever os ajustes de preços relativos a este ano. Mas são objetivos indiretos da política monetária, que na essência são impossíveis de se dissociar do próprio objetivo maior de colocar a inflação no centro da meta em 2016.

As palavras-chaves no caso do ancoramento das expectativas são paciência, perseverança, determinação, que farão com que elas convirjam para 4,5% ao longo do tempo.

Quem estudou o comportamento das expectativas mais a fundo sabe que elas dependem de uma série de fatores. São afetadas por uma certa inércia, pela inflação corrente e até, nos estudos de economia comportamental, o chamado "group thinking", que é uma visão homogênea que naturalmente costumam ter especialistas que convivem entre si e discutem os mesmos temas.

Ou seja, a queda da inflação corrente tende a puxar as expectativas para baixo, e a inércia vai se diluindo ao longo do tempo. Comunicação ajuda a oxigenar o debate.

Nada disso quer dizer que a política monetária esteja abrindo mão de fazer a expectativa de inflação ir para o centro da meta. A política monetária afeta as expectativas. As expectativas são um dos canais de transmissão dos juros. Elas são um componente com forte peso nas projeções do BC. Como estão acima da meta, exigem mais da política monetária.

O ancoramento das expectativas, na essência, representa um compromisso assumido pelo BC num caminho mais longo que os meses mais imediatos. Significa colocar as projeções de inflação do BC na meta e reagir a desvios negativos nessas mesmas projeções. E, seguramente, quando for a hora de baixar os juros (debate que o BC acha hoje despropositado), as expectativas ancoradas seguramente serão um fator importante na tomada dessa decisão.

Alta da taxa Selic vai influenciar nas compras a prazo

Alta da taxa Selic vai influenciar nas compras a prazo


Quem planeja fazer financiamentos precisa ficar atento.
Intenção do governo ao subir os juros é desanimar o consumidor.


O Comitê de Política Monetária (Copom), aumentou os juros básicos da economia em meio ponto percentual. A taxa agora está em 12,75% ao ano e essa alta já era esperada pelos analistas. Mesmo assim, a expectativa pela decisão foi um dos fatores que mexeram com o mercado financeiro.

O mercado já previa que a taxa Selic chegaria a esse patamar porque a inflação está muito pressionada:  a conta de luz ficou mais cara, os combustíveis e o transporte público também.
O governo não tem como evitar o impacto desses aumentos sobre o índice, então atua em cima do crédito: sobe os juros para desanimar o consumidor a comprar. Por isso, o Comitê de Política Monetária decidiu, por unanimidade, elevar a Selic em meio ponto percentual, mas para o economista Alexandre Schwartsman, foi pouco.
"Ele teria que fazer 0,75 ou um ponto percentual. Não está fazendo isso, porque é muito claro que já deu como perdida a inflação deste ano. O governo reconhece a derrota e vai tentar ver se ano que vem, ele não perde de goleada", aponta Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.
A inflação também está pressionada pela disparada do dólar, que na quarta-feira (4) chegou a ser negociado a R$ 3,00, mas fechou pouco abaixo disso, em R$ 2,98. Aí, os motivos foram mais políticos do que econômicos porque o embate entre governo e Congresso por causa das medidas de ajuste fiscal, deixou os investidores desconfiados e eles correram atrás da segurança do dólar.
O impacto também apareceu nos negócios na Bolsa de São Paulo. O principal índice fechou com queda de 1,63%, um número que mostra como os investidores estão vendo o Brasil agora.
"É um pais que se tornou muito vulnerável. Quando os investidores olham isso, eles tendem a procurar fazer investimento naquilo que é menos vulnerável, ou seja, têm menos possibilidade de trazer algum risco para o investimento dessas empresas. Hoje o Brasil não é esse caso", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Thursday, May 21, 2015

Jeff Lawson about software industry 1/2

BNDES aprova R$ 476 milhões para construção de três novos hospitais em São Paulo

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 476 milhões ao Estado de São Paulo, para a construção de três complexos hospitalares de alta complexidade.

O investimento total no empreendimento é de R$ 978,2 milhões, e a expectativa é de que os hospitais gerem 1.300 empregos diretos e indiretos na fase de implantação e 1.600 na fase de operação.

As unidades serão construídas em São José dos Campos, Sorocaba e na capital. No total, 626 leitos serão disponibilizados nos novos hospitais, sendo 184 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Incluído no Plano Estadual de Saúde (PES), referente ao período de 2012 a 2015, o projeto será realizado por meio de uma Parceira Público Privada (PPP), já constituída pelo Governo Estadual.

O financiamento aprovado pelo BNDES atende apenas à parcela pública do negócio. Em fevereiro último, o BNDES aprovou quatro operações de empréstimo-ponte e capital de giro para os parceiros privados responsáveis pela implantação das unidades, no valor total de R$ 163,7 milhões.

O crédito está de acordo com o Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal do Estado de São Paulo, e a operação já conta com autorização legislativa, por meio da lei estadual 15388/14.

O projeto visa reduzir o déficit de oferta de serviços de saúde e tratamento especializado nessas regiões. Em Sorocaba e São José dos Campos, as unidades serão voltadas para terapia intensiva, ortopedia, traumatologia, cardiologia e neurologia.

Já em São Paulo, haverá ampliação do atendimento em ginecologia, oncologia e reprodução, com o incremento do Centro de Referência em Saúde da Mulher (CRSM), que tem como objetivo atender os habitantes da Região Metropolitana. De acordo com o projeto, a atual unidade do CRSM será transferida para um complexo de edifícios a ser construído na região da Luz, na capital paulista.

Wednesday, May 20, 2015

Mais subsídios para empresas via BNDES

Em votação simbólica, o plenário do Senado aprovou a medida provisória que eleva o limite dos financiamentos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) subsidiados pela União. O texto já havia sido apreciado pelos deputados e agora segue para sanção da presidente Dilma Rousseff.
A medida amplia em R$ 50 bilhões o limite de incentivos financeiros repassados pelo Tesouro Nacional. Até agora, o Tesouro podia reservar R$ 402 bilhões para compensar a diferença de recursos causada pelo empréstimo a empresas com taxas de juros abaixo do mercado. Pelo texto aprovado, 30% deverá ser destinado para as regiões Norte e Nordeste.
Esses financiamentos com juro subsidiado fazem parte do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado em 2009 para amenizar o impacto da crise financeira internacional.

Crédito fraco leva bancos a ter folga de capital

Até recentemente bastante preocupados com seus níveis de capitalização, os bancos já começam a respirar mais aliviados. Itaú Unibanco e Bradesco, os dois maiores bancos privados do país, começam inclusive a discutir qual destino darão aos recursos em excesso que têm no balanço.
É uma mudança e tanto em relação às previsões feitas pelas próprias instituições financeiras. Cerca de um ano atrás, os principais bancos do país buscavam alternativas para fortalecer seu capital, como venda de ativos e mudanças no pagamento de dividendos.
Em outubro de 2013, com a entrada das regras de Basileia 3, os reguladores começaram a demandar mais recursos de melhor qualidade das instituições, como dinheiro dos acionistas ou títulos de dívida sem muitos privilégios aos credores. Até 2019, essas exigências ficarão mais altas ainda.
A recente sensação de mais conforto se deve largamente à desaceleração do empréstimo, produto responsável pela exigência de mais de 80% de capital. "Entendíamos que o crédito cresceria mais e isso não se concretizou", diz Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do Bradesco.
Em suas projeções para capital até 2019, o Bradesco previa uma evolução do crédito entre 10% e 15% ao ano até 2019, quando as regras de Basileia 3 estarão 100% implementadas.
Até agora, porém, a expansão tem sido bem mais lenta no Banco. Em 2014, o saldo de empréstimos avançou 6,5%, e, para este ano, a previsão é de 5%. Pelo menos até 2016 o Banco não espera que o estoque volte a aumentar a mais de 10%. Situação semelhante se repete em Itaú, BTG Pactual e Santander, sendo que os dois últimos já registram folga de capital há mais tempo.
Em 2019, o Banco Central exigirá que os bancos tenham entre 8,5% e 11% de seus ativos em capital de nível 1, o de qualidade mais alta. Em março, o Bradesco já tinha 12,1% e, por suas projeções, encerraria 2018 com 13,5%.
Com cálculos feitos de uma forma diferente, o Itaú mostra que, se as regras de Basileia 3 estivessem integralmente em vigor hoje, o nível 1 de capital estaria em 11,4%. O número não leva em conta lucros que devem ser acumulados no período, e que, portanto, engordarão o capital, nem a expansão do crédito, que consumirá recursos.
Não foi apenas o crédito mais lento que reforçou os índices de capitalização dos dois maiores bancos do país. O retorno sobre o patrimônio acima de 20% também teve um papel importante. "Nosso foco na constante busca por eficiência no atendimento dos nossos clientes permitiu ganhos operacionais, que contribuiram para o aumento da nossa rentabilidade", afirma Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco.
Entre os outros elementos que contribuíram para a situação mais confortável estão a guinada que os bancos deram para modalidades de empréstimo de mais baixo risco, como imobiliário e consignado, que demandam menos capital, e o crescimento das receitas de serviços. "A combinação desses fatores propiciou um aumento do resultado, com um consumo de capital que cresceu em velocidade menor", afirma Kopel.
Até quem estava em situação mais delicada também já está mais tranquilo. É o caso de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Além de já terem desacelerado a expansão do crédito, ambos os bancos contaram com uma ajuda do controlador: transformaram dezenas de bilhões de títulos de dívida em capital no ano passado.
Segundo o Valor apurou, simulações têm mostrado que o BB até 2017 estará em situação mais cômoda de capital. Por conta disso, o Banco teria alternativas suficientes para não vender ações até 2019. Em recente entrevista sobre o resultado do primeiro trimestre, o Banco também descartou mudanças no dividendos.
Mesmo assim, para alguns analistas é quase inevitável que o BB tenha de reduzir o patamar de pagamento de dividendos, hoje em 40%. Tito Labarta, do Deutsche bank, considera o atual nível de 8,68% de capital principal do BB baixo. Um patamar ideal, para ele, seria de 10%. Por isso, Labarta avalia que, a depender da lucratividade alcançada, o Banco ainda precise levantar recursos com a venda de novas ações.
No caso da Caixa, a diminuição dos dividendos já está em curso. Alexsandra Camelo Braga, vice-presidente de riscos da Caixa, afirma que o pagamento deste ano para o Tesouro Nacional ficará em torno de 50% do lucro. No ano passado, o percentual foi de 55,6%. "Não vamos ter problema de capital", diz a executiva. "Também não consideramos aporte de capital do controlador."
A redução na velocidade de expansão no crédito também contribuirá. No ano passado, o estoque do Banco avançou 22,4%. Em 2015, ficará entre 14% e 17%.
Questionada sobre como a abertura de capital da Caixa Seguros pode reforçar o capital do Banco, Alexsandra disse que não poderia comentar o assunto. É fato, porém, que a venda das ações detidas pela Caixa tornará o balanço do Banco mais robusto. O Banco também tem se desalavancado com a venda de carteiras de crédito.
"A capitalização dos bancos públicos despertava preocupação, mas a conversão dos títulos de dívida resolveu isso", diz Alcir Freitas, vice-presidente de instituições financeiras da Moody´s. "Daqui até 2018, a situação é administrável, mas o que vai determinar isso é o ritmo de expansão do crédito."
Com mais folga de capital, os bancos privados recebem perguntas de investidores sobre o destino que darão aos recursos.
Uma das opções avaliadas pelo Bradesco é a distribuição de mais dividendos aos acionistas. Essa é uma alternativa considerada também pelo Itaú, mas Kopel diz que o Banco também pode buscar expandir seus negócios ou recomprar suas próprias ações.
O Valor apurou que o BTG Pactual considera que uma aceleração na distribuição de dividendos, que teria impacto positivo no retorno, poderia não ser bem vista pelo mercado.
Para Labarta, do Deutsche bank, não necessariamente os bancos precisam encontrar um destino para a folga de capital agora. "Não há pressa. Dado o cenário macroeconômico, o excesso de capital não é uma característica ruim."
Em breve, o BC também exigirá mais recursos de bancos considerados domesticamente importantes. A quantidade de capital exigida ainda é desconhecida. 

Tuesday, May 19, 2015

BC reforça expectativa de alta de 0,5 ponto da Selic

O mercado está convencido de que a direção da inflação é para baixo e, pela primeira vez em algum tempo, a autoridade monetária se mostra um tanto mais inclinada a uma política mais dura ("hawkish", no jargão econômico) do que o próprio mercado. Esse é o resumo do clima descrito nos encontros entre economistas de instituições financeiras e consultorias com o diretor de Política Econômica do Banco central, Luiz Awazu Pereira, ontem em São Paulo. Ficou no ar a percepção de que a autoridade monetária tende a manter o ritmo de alta da Selic, de 0,50 ponto percentual, em junho, para 13,75% ao ano.
Os relatos colhidos devem ajudar na elaboração do relatório trimestral de inflação do BC.
O diretor do BC reforçou o discurso mais firme da apresentação do boletim regional na semana passada e destacou que a autoridade monetária segue "vigilante" apesar dos dados econômicos fracos apontarem para um quadro de recessão.
Questionamentos e comentários feitos pelos economistas presentes sugerem, segundo fontes, que a preocupação geral do mercado gira hoje em torno do tamanho da recessão a ser observada na economia neste ano e o impacto disso no mercado de trabalho. Sinalizaram, assim, que, talvez, já tenha chegado o momento de esperar pelos efeitos, em um prazo mais longo, da política monetária conduzida até aqui. "A impressão que ficou é que hoje o BC é mais ´hawkish´ do que o mercado", disse fonte presente ao evento.
Embora as projeções para o IPCA do próximo ano ainda estejam bem acima da meta de 4,5% fixada pelo BC, a percepção é que há um entendimento dominante de que a inflação deve cair de modo considerável. A peça-chave a impedi-la de alcançar o centro da meta em 2016 não seria mais a crença no compromisso do BC em cumprir os seus objetivos, mas uma avaliação de que a inércia deve ter participação importante nesse jogo.
Das três reuniões ocorridas ao longo da segunda-feira, o tema da inércia foi enfatizado no último encontro do dia, no qual os economistas disseram enxergar uma resistência para a convergência da inflação à meta justamente por conta dos efeitos da inflação alta esperada para este ano, de 8,31% segundo o boletim Focus.
De modo geral, boa parte das conversas entre Awazu e os economistas foi dedicada à avaliação sobre de que forma o Produto Interno Bruto (PIB) fraco impactará o mercado de trabalho e, assim, contribuirá para jogar a inflação para baixo. Embora essa questão esteja carregada de incertezas e não tenha havido exatamente um consenso, diz uma outra fonte, as análises apresentadas contemplam a possibilidade de a inflação ser mais baixa no ano que vem. "Foi muito discutido o quanto os modelos estão sendo capazes de projetar a tendência de queda da inflação em 2016 e eu fiquei com a sensação de que muita gente acredita que essas estimativas podem continuar em queda", afirmou um dos participantes do evento.
Diferentemente das reuniões anteriores, o diretor do BC foi mais atuante nas discussões. Atendendo um apelo dos agentes de mercado, na reunião de fevereiro, Awazu se mostrou mais aberto ao diálogo, fazendo mais comentários do que o usual. "Antes o BC adotava uma postura mais passiva, de apenas ouvir os agentes do mercado, sem dar maiores sinalizações. O que parece, agora, é que o BC está buscando ser mais transparente, procurando interagir mais com o mercado", disse um participante.
Já no começo da reunião, segundo um economista, o diretor do BC destacou que a mensagem expressa nos documentos recentes continua sendo a visão atual da autoridade, que está comprometida em circunscrever os efeitos dos reajustes de preços relativos a 2015 e em controlar a transmissão dos efeitos secundários, reforçando o compromisso de trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2016. No discurso de apresentação do boletim regional do BC, na semana passada, Awazu repetiu várias vezes que o Copom vai se manter vigilante e que a sociedade deve entender que a autoridade monetária está comprometida em impedir a transmissão desses efeitos secundários para a inflação de 2016.
No debate de ontem, houve divergência em relação a algumas variáveis econômicas como o impacto da deterioração do mercado de trabalho e o comportamento da inflação de serviços. Nesse cenário de opiniões dissonantes, o diretor do BC reforçou que, diante das incertezas, a melhor forma de agir é a adotar a forma clássica de elevar a taxa básica de juros.
Segundo os economistas que participaram dos encontros, a despeito do quadro de atividade fraca, a mensagem é que autoridade monetária se mostra preocupada em conseguir a convergência das expectativas de inflação para o centro da meta e sinaliza que o ciclo de aperto monetário não terminou.
 
 
 
 
No fim da reunião, ao comentar o cenário externo, Awazu afirmou que é melhor que o país enfrente o processo de normalização da política monetária americana com fundamentos melhores - o que inclui a inflação sob controle. Entre os economistas, a leitura é de que, de fato, o Brasil está menos vulnerável a esses movimentos internacionais.
Apesar do discurso recente mais "hawkish" do BC, a mediana das projeções de inflação para o fim de 2016 no boletim Focus permaneceu praticamente estável na última semana, recuando de 5,51% para 5,50%, após ter cedido 0,10 ponto percentual nas últimas quatro semanas. Para os economistas, a tendência é que a projeção para inflação em 2016 comece a cair nas próximas semanas, com o mercado projetando uma Selic maior para o fim do ano.
A ênfase em que a política monetária seguirá vigilante, reforçando o objetivo de levar a inflação para o centro da meta em 2016, ajuda a manter os prêmios nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) de curto prazo.
Ontem os juros futuros subiram acompanhando a alta do dólar e das taxas dos títulos do Tesouro americano. O DI para janeiro de 2016 avançou para 13,82% de 13,77% do ajuste do pregão anterior. Já o contrato para janeiro de 2021, mais sensível a movimentos de aversão a risco, avançou de 12,52% para 12,61%.
Diante do tom mais duro da autoridade monetária, alguns agentes do mercado passaram a ver a possibilidade de o BC manter a Selic em um patamar mais elevado por mais tempo, o que se reflete na alta da taxa do DI para janeiro de 2017, que avançou de 13,41% para 13,49%. "O BC está sendo ´hawkish´ para buscar a convergência das expectativas de inflação para a meta. Uma vez que ele consiga isso e diante de um cenário de atividade econômica muito fraca, ele talvez mude seu discurso", afirma Rogério Braga, sócio e gestor da Quantitas. "Agora se as expectativas vão convergir para 4,5% é outra história", afirma.
 

Sunday, May 17, 2015

Como a Selic funciona e influi na sua vida

O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é uma taxa que controla, de forma indireta, o valor os juros no País. Geralmente nos lembramos dela quando a economia está aquecida e a inflação ameaça, ou ao contrário, quando a economia mostra sinais de fraqueza e precisa de uma força para avançar.
Isso acontece da seguinte maneira: a Selic determina com qual taxa de juros o governo vai remunerar quem empresta a ele. Se ela está alta, os bancos preferem emprestar dinheiro ao governo. Se ela está baixa, compensa para os bancos emprestar para o mercado em geral, empresas e pessoas físicas.
Assim, em caso de Selic elevada, haverá menos dinheiro na praça para ser emprestado para empresas e pessoas, pois os bancos estão ganhando emprestando para o governo. Logo, pela lei de oferta e procura, o juro sobre o dinheiro que sobra para a população ficará mais alto. Se a Selic está baixa, os emprestadores vão procurar formas mais rentáveis de aplicar seu dinheiro e a quantidade para ser emprestada na praça fica maior, e o juro a ser cobrado, consequentemente, cai.
A Selic, então, fará diferença no juro que pagamos no cheque especial, no crediário, nos cartões de crédito. Essa relação, porém, não é imediata. Se a taxa Selic é aumentada em um dia, os juros do mercado não sobem no outro. Há um tempo necessário para que a mudança faça efeito, normalmente superior a um mês.
Barateando e encarecendo o crédito, a Selic tem o poder de controlar o consumo. Assim, ela é usada como instrumento para controlar a inflação. Quando o consumo está muito alto e há risco da inflação sair da meta estipulada pelo Banco Central, a Selic vai sendo jogada para cima e, desse jeito, freando a economia, o consumo e a alta nos preços.
A Selic influi também na quantidade de dinheiro internacional que vem para o Brasil em busca de remuneração. Se ela estiver alta, e os juros do mercado, consequentemente, altos também, mais dinheiro do exterior virá para ser emprestado em busca de lucro. Se ela estiver baixa, menos estrangeiros aportarão valores.
Isso acontece, também, por países com economias mais sólidas terem uma taxa de juros baixa. Logo, muitos investidores tomam dinheiro emprestado a baixo juro em seus países e enviam para países de juro alto, para conseguirem lucros.
Dessa maneira, a Selic também influi na quantidade de moeda internacional circulando dentro do País e, quanto maior for o volume da divisa de uma nação dentro da outra, menor sua cotação. Exemplo, se os juros sobem pela Selic e muitos dólares vêm para o Brasil para serem emprestados, a moeda americana ficará menos valorizada em relação ao real. Com a moeda mais baixa, viagens para o exterior e compra de produtos estrangeiros ficam mais viáveis.
Ela também pode ser boa para o poupador. Com o aumento da taxa, os rendimentos das aplicações de renda fixa, como poupança e CDBs, tem um desempenho mais expressivo.
Por todos esses efeitos é que a Selic é tão importante. Suas alterações são determinadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom), um órgão criado em 1996 e que tem a função de determinar a taxa de juro. Ele é formado por integrantes do Banco Central.
A Selic em tópicos
* Influi no valor dos juros cobrados no mercado
* Esfria economias muito aquecidas e aquece as que estão esfriando
* É usada como instrumento para controlar a inflação
* Atrai ou repele capital estrangeiro que busca ganho com juro
* Tem participação na cotação de moedas estrangeiras
* Influi no rendimento de aplicações de renda fixa
* Suas mudanças são determinadas pelo Copom, comitê com integrantes do Banco Central